BELÉM
Saberes das mulheres de Cotijuba ganham livro, mapa cartográfico documentário e manifesto político
Produtos lançados a partir do projeto Semeadeiras fortalecem a memória coletiva, a agroecologia e a incidência política pelo direito à terra nas ilhas de Belém (PA). Livro e Manifesto já estão disponíveis para download.

A Ilha de Cotijuba, em Belém (PA), foi palco na última terça-feira (10) de um encontro que celebrou a força das mulheres negras na defesa da terra e da vida. O evento final do projeto Semeadeiras, realizado pelo Centro Brasileiro de Justiça Climática reuniu agricultoras, lideranças comunitárias e ativistas em um momento marcado por depoimentos emocionados, entrega de certificados e o lançamento de materiais produzidos ao longo de um ano de mobilização.
Entre os destaques, estiveram a inauguração da placa com o mapa dos quintais produtivos, o lançamento do livro “Semeadeiras: uma ferramenta de multiplicação”, a estreia do minidocumentário e a apresentação do Manifesto “Semeadeiras: as políticas públicas que queremos para as ilhas”.
O livro Semeadeiras reúne relatos e depoimentos das participantes do projeto iniciado há um ano. Nesse processo, foram discutidos temas como regulamentação fundiária e financiamento para agroecologia e agricultura familiar, sempre a partir da perspectiva das mulheres do território.
Para Danielle Conceição, moradora da ilha, o registro tem um significado profundo: “A importância é termos a nossa história dentro de um livro. Eu nasci e me criei aqui, meu pai era pescador e minha mãe produtora agrícola. Hoje, com a formação, estamos dando mais valor a isso. O livro mostra nosso rosto, nossas falas, nossa vivência. É um registro construído com carinho, que preserva nossa memória e incentiva outras pessoas a conservar e plantar. O que temos de mais maravilhoso é a nossa ilha, nossa natureza, nossas praias e rios. Queremos que nossos filhos e netos também possam viver tudo isso”, afirma.
O lançamento do Manifesto Semeadeiras reúne demandas e recomendações direcionadas aos governos federal, estadual e municipal, além do meio acadêmico, setor privado e sociedade civil. Nele, as mulheres da região se afirmam como autoras de soluções baseadas nos territórios, fortalecendo a luta por políticas públicas socioambientais adaptadas à realidade local.
“São as nossas causas climáticas, são as causas que nós vivemos. E a gente falar de clima nesse ano, nesse momento de COP30 é muito importante pra nós, porque agora nós vamos ter, com essa Carta Manifesto, um documento pautável com todas as nossas demandas, o que nós precisamos pra nossa ilha, assim também pode ser adotado pelas outras ilhas, o que nos falta é que o poder público possa fazer por nós”, afirma Mãe Juci D’Oyá.
Agora, ambos os materiais estão disponíveis em formato digital para acesso público:
Baixar o Livro “Semeadeiras: uma ferramenta de multiplicação” e o Manifesto “Semeadeiras: as políticas públicas que queremos para as ilhas”: https://contato-rdsm-site-1117.rds.land/livro-manifesto-semeadeiras
Outro momento simbólico do evento foi a inauguração da placa com o mapa dos quintais produtivos, construída pelas mulheres com a facilitação do projeto e instalada em frente à casa de uma das matriarcas (in memoriam) do território. O objetivo é que a comunidade possa se reconhecer nesse mapa e valorizar a biodiversidade existente na ilha.
Para Simara Santos, moradora de Cotijuba, esse é um marco coletivo: “A importância do quintal produtivo é uma questão de segurança alimentar, de saber o que a gente está comendo sem os fertilizantes agressivos. No meu quintal eu já colho abóbora, limão, o que preciso para o dia a dia. Isso mostra que é possível viver bem com a natureza, plantar o que quiser sem derrubar tudo. A placa é um reconhecimento, principalmente por estar no quintal de uma moradora antiga da ilha. Foi perfeita”.
O projeto Semeadeiras do CBJC, conta com o apoio do Movimento de Mulheres das Ilhas de Belém (MMIB), associação comunitária que há anos mobiliza mulheres ribeirinhas em torno da valorização dos saberes tradicionais, da agroecologia e da luta por direitos territoriais. Além da parceria com o Palmares Lab e o Coletivo Miri, fortalecendo a incidência das mulheres das ilhas na agenda socioambiental e climática a partir do protagonismo de suas próprias vozes.
Para Anne Heloise, coordenadora de Educação Climática do CBJC, “O encerramento do Projeto Semeadeiras foi muito especial, porque ele celebra um projeto marcante para nós do Centro Brasileiro de Justiça Climática. Esperamos que esses produtos percorram o Brasil e o mundo, tornando-se instrumentos efetivos de incidência e transformação social, para elas, para o território delas, para Cotijuba, para a Amazônia e para o Brasil. É uma história muito inspiradora, com grande potencial para ser multiplicada em outros contextos”, acrescentou.
“O projeto conseguiu juntar mulheres de todos os pontos de Cotijuba, criando um espaço de comunhão e troca. Depois de um ano, o que fica é a amizade, o conhecimento e a certeza de que, mesmo seguindo caminhos diferentes, levamos adiante as ideias construídas coletivamente. Hoje, vemos nosso quintal produtivo ganhar força, com quase 20 mulheres cultivando, criando abelhas e fortalecendo a associação. Nosso objetivo inicial era apenas mobilizar e juntar mulheres; agora temos um horizonte muito mais expandido”, afirma Adriana Lima, da coordenação do Movimento de Mulheres das Ilhas de Belém.
Na ocasião, também foi exibido em primeira mão o minidocumentário “Semeadeiras”, que registra o projeto e visibiliza às mulheres protagonistas dessa caminhada. A produção estará disponível em 17/09, às 16h no canal do Youtube do Centro Brasileiro de Justiça Climática (CBJC) ampliando o acesso público às histórias, memórias e lutas compartilhadas pelas mulheres de Cotijuba.
SERVIÇO
Livro “Semeadeiras: uma ferramenta de multiplicação”
e Manifesto “Semeadeiras: as políticas públicas que queremos para as ilhas”
Download aqui
Minidocumentário “Semeadeiras” – Disponível em 17/09, às 16h, no canal do YouTube do CBJC. Se inscreva e ative as notificações. Site oficial: cbjc.com.br/pt/
Link para imagens: FotoImprensaLactoDigital.CreditoAmarilisMarisa